Atualização do Mapa Histórico dos Grupos Armados

Realização:
GENI/UFF e Fogo Cruzado-RJ

Data:
Abril 2024

Parceiro:
Disque-Denúncia

Projeto:
Mapa Histórico dos Grupos Armados no Rio de Janeiro

Mapa:

https://fogocruzado.org.br/mapadosgruposarmados.html

Release:

COMANDO VERMELHO CRECE EM 2023 E CONCENTRA MAIS DA METADE DAS ÁREAS DOMINADAS POR GRUPOS ARMADOS

  • Atualização do Mapa dos Grupos Armados mostra que em 16 anos a área do Grande Rio sob controle de grupos armados dobrou (crescimento de 105,73%).
  • Nesse período, as milícias cresceram 204,6%, triplicando o seu domínio territorial. Comando Vermelho e Terceiro Comando Puro cresceram respectivamente 89,2% e 79,1%.
  • A facção Amigos dos Amigos foi o único grupo armado a apresentar redução de seu território nos últimos 16 anos (queda de 75,8%).
  • Em 2023 (comparado a 2022) todos os grupos armados apresentaram redução, a exceção do CV que apresentou aumento de 8,4%.

O ano de 2023 ficou marcado pela redução do domínio de diversos grupos armados na região metropolitana do Rio de Janeiro, é o que mostra a atualização do Mapa dos Grupos Armados, lançada nesta segunda-feira (08). O Mapa é uma parceria entre o Instituto Fogo Cruzado e o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos, da Universidade Federal Fluminense (GENI-UFF).

Enquanto as milícias apresentaram redução de 19,3%, o Terceiro Comando Puro (TCP) redução de 13% e a facção Amigos dos Amigos (ADA) reduziu 16,7%, o Comando Vermelho (CV) foi o único grupo armado a avançar 8,4% seu domínio entre os anos de 2022 e 2023.

Com isso, as milícias, que em 2021 e 2022 eram o grupo armado com o maior domínio territorial, foram ultrapassados pelo do Comando Vermelho que, em 2023, concentrou 51.9% dos territórios controlados por grupos armados na região metropolitana do Rio de Janeiro.

Série histórica do Mapa dos Grupos Armados

Ao todo, de 2.565,98 km² de área urbana habitada da região metropolitana do Rio de Janeiro (retiradas a cobertura vegetal, áreas rurais e bacias hidrográficas), 18,2% esteve sob o domínio de algum grupo armado em 2023. Em 2008, as áreas dominadas representavam 8,8%. Isso significa que nos últimos 16 anos a área da região metropolitana do Rio de Janeiro sob controle de grupos armados dobrou (crescimento de 105.73%).

Para Daniel Hirata, coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense, “testemunhamos nos últimos anos muitos episódios emblemáticos do conflito entre os grupos armados pelo controle territorial e, agora, vemos como isso tudo faz parte da dinâmica geral do controle de territórios e populações. A expansão do controle territorial se faz de forma muito mais frequente em áreas não controladas anteriormente, mas não é possível ignorar o conflito aberto no Rio de Janeiro. Sabia-se que o CV estava avançando em áreas das milícias e que isto levaria a intensificação do conflito. Neste ponto, a atuação das autoridades políticas e policiais deixou muito a desejar, seja porque não ofereceu a devida proteção aos moradores dessas áreas, em parte, inclusive, intensificando os conflitos através das operações policiais, mas também porque não atua sob as bases políticas e econômicas desses grupos e nem na lógica do controle territorial armado, que como o caso Marielle mostrou, é o estrutura o poderio desses grupos”.

As milícias foram o grupo que mais cresceu ao longo de todo esse período, triplicando o seu domínio territorial (+204,6%). E a ADA foi o único grupo que apresentou redução ao final do período (75,8%). CV e TCP cresceram respectivamente 89,2% e 79,1% nos últimos 16 anos.

Em 2023, dos 466,65 km² de área do Grande Rio dominadas por algum grupo armado, 38,9% estavam sob o domínio das milícias, 7,7% do Terceiro Comando Puro, 0,8% da facção Amigos dos Amigos, e 51,9%, sob o domínio do Comando Vermelho. Com isso, em 2023, o CV retomou a liderança de área total sob o seu domínio (242,21 km²), que havia sido perdida em 2021 para as milícias. Em 2021, dos 509,35 km² do Grande Rio dominados por grupos armados, 46,5% pertenciam às milícias e 42,9% ao Comando Vermelho. TCP e ADA dominavam 8,7% e 0,9%, respectivamente.

A retomada do Comando Vermelho foi impulsionada pelo crescimento na Baixada Fluminense e no Leste Metropolitano, que somaram 85% das áreas conquistadas pela facção em 2023. Enquanto as milícias, acumularam as maiores perdas na Baixada, seguida da Capital, principalmente na Zona Oeste.

Divisão por região

Baixada Fluminense

Composta pelos municípios de Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaguaí, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, São João de Meriti e Seropédica, a Baixada Fluminense vem sendo marcada pela oscilação no domínio entre milícia e CV desde 2019. Nos 16 anos analisados, a milícia cresceu expressivamente (177.2%) aumentando seu território em 48,99 km². Mas a queda em 2023 (22.5%) fez com que o CV retomasse a liderança em cobertura territorial na região.

Apesar de ser apenas a terceira força em domínio territorial na Baixada, esta é a região que concentra a maioria das áreas do TCP — 38.8% na série histórica e 56.7% em 2023. Entre 2008 e 2023, o TCP quase quadruplicou seus territórios na Baixada Fluminense (aumento de 296.3%).

Leste Metropolitano

O Leste Metropolitano (formado por Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Maricá, Rio Bonito, Cachoeira de Macacu e Tanguá) é marcado pela hegemonia consolidada do Comando Vermelho que, durante toda a série histórica, nunca controlou menos do que 70% dos territórios dominados. Em 2023, dos 111,04 km² de área do Leste Metropolitano dominada por algum grupo armado, 97,4% estava sob domínio do Comando Vermelho.

Para Maria Isabel Couto, Diretora de dados e transparência do Instituto Fogo Cruzado, a hegemonia do CV no Leste Metropolitano e seu crescimento na Baixada Fluminense explicam a liderança da facção em 2023. “A série histórica mostra o crescimento consistente das milícias até 2021. Isso muda em 2022, quando o CV volta a crescer por dois anos consecutivos. Nos dois casos, enquanto não houver política pública voltada para a desarticulação efetiva das redes econômicas que sustentam os grupos armados e para a proteção de funcionários públicos que prestam serviços essenciais em todos os bairros do Grande Rio, conviveremos com essa oscilação onde num ano a milícia cresce mais e noutro o CV lidera. Essa oscilação é também consequência das escolhas do poder público, que privilegiam operações espetaculares de confronto armado que hora afetam mais um grupo, hora afetam mais outro, sem modificar a estrutura. O problema maior por trás disso são os conflitos incessantes que diariamente colocam a vida da população em risco e as dinâmicas de violência e extorsão às quais essa mesma população é submetida quando um grupo armado assume sua localidade”, explica a pesquisadora.

Capital

A capital fluminense é uma região marcada pelo predomínio das milícias. Dos 155,33 km² de área da cidade dominada por algum grupo armado em 2023, 66.2% estavam sob influência das milícias em 2023. Comando Vermelho, Terceiro Comando Puro e Amigos dos Amigos concentraram 20,7%, 9,3% e 2,4%, respectivamente.

Apesar do forte domínio, as milícias perderam território na cidade, registrando uma queda de 15,4%. O Terceiro Comando Puro reduziu 9,6% de seu território e o ADA, 16%.

O Comando Vermelho foi o único grupo armado a expandir seu território na Capital, com um aumento de 9,12%.

Capital — Zona Oeste

Dos 118,9 km² de extensão territorial sob domínio de algum grupo armado na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro até o ano passado, 83,1%, estavam sob controle das milícias. 7,7% estava sob o Comando Vermelho,5,7, sob o TCP, e 2,7, sob o ADA.

Em 2023, a Zona Oeste do Rio de Janeiro viveu um dia de terror e caos quando 35 ônibus, estações de BRT e uma composição dos trens urbanos foram queimados como resposta à morte de uma das lideranças da milícia, em uma operação policial.

Capital — Zona Norte

Se na Zona Oeste é a milícia que mantém sua hegemonia, na Zona Norte o Comando Vermelho é preponderante. Em 2023, dos 32,24 km² de extensão territorial na região sob domínio de grupos armados, 60,5% eram controlados pelo CV. Em seguida está o Terceiro Comando Puro, com 21,7% do território dominado. A milícia fica em terceiro lugar, com 12,8% e ADA em último, com 1,8%.

Capital — Zona Sul

Na Zona Sul do Rio de janeiro, 2,64 km² estão sob influência de algum grupo armado, sendo Comando Vermelho e Terceiro Comando Puro os únicos a apresentarem presença significativa na região, com 94,7% e 5,30% respectivamente.

Capital — Centro

Na região central do Rio de Janeiro, 1,54 km² estão sob domínio de algum grupo armado. 63,6% estão sob influência do Comando Vermelho, e 36,4%, do Terceiro Comando Puro.

O Mapa

Há mais de quatro décadas, amplos espaços da região metropolitana do Rio de Janeiro estão sob o domínio de grupos armados. Seria esperado que as autoridades elaborassem um mapa mostrando quais são os grupos armados que dominam enormes espaços do estado e onde eles atuam. Essa informação é fundamental para o planejamento de ações de combate à expansão da violência urbana e para o desenvolvimento de uma política de segurança pública eficiente. Mas esse mapa nunca foi produzido pelas autoridades e este é mais um sinal do vazio de informações qualificadas que caracterizam a longa tradição da gestão pública no estado. Ou seja, ajuda a entender como chegamos a esta situação.

É nesse contexto em que se insere a parceria entre o GENI e o Fogo Cruzado para a produção do Mapa Histórico dos Grupos Armados do Rio de Janeiro.

Para este levantamento, foram analisadas 704.387 denúncias coletadas através do portal do Disque Denúncia que mencionavam milícias ou tráfico de drogas entre 2005 e 2023. Esses registros permitiram traçar o movimento histórico de domínio de facções e milícias sobre mais de 11 mil sub-bairros, favelas e conjuntos habitacionais da região metropolitana do Rio de Janeiro.

SOBRE O FOGO CRUZADO

O Fogo Cruzado é um Instituto que usa tecnologia para produzir e divulgar dados abertos e colaborativos sobre violência armada, fortalecendo a democracia através da transformação social e da preservação da vida.

Com uma metodologia própria e inovadora, o laboratório de dados da instituição produz mais de 50 indicadores sobre violência nas regiões metropolitanas do Rio, do Recife, de Salvador e de Belém.

Através de um aplicativo de celular, o Fogo Cruzado recebe e disponibiliza informações sobre tiroteios, checadas em tempo real, que estão no único banco de dados aberto sobre violência armada da América Latina, que pode ser acessado gratuitamente pela API do Instituto.

SOBRE O GRUPO DE ESTUDOS DOS NOVOS ILEGALISMOS

O Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (GENI-UFF) é um grupo de pesquisa registrado no diretório de grupos de pesquisa do CNPq e especializado em temas associados às diferentes formas de violências e os conflitos sociais. O GENI-UFF se beneficia de estar sediado na Universidade Federal Fluminense, cuja centralidade na formação de recursos humanos é reconhecida em nível nacional e internacional. Neste espaço tão rico de formação e pesquisa na área, o GENI-UFF vem desenvolvendo projetos de pesquisa que envolvem discentes e docentes provenientes dessa rede institucional da UFF. Também é fundamental para o GENI-UFF a participação em redes interinstitucionais com outros grupos de pesquisa sediados em diferentes universidades brasileiras.

Arquivo:

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